sábado, 17 de novembro de 2012

Existir

Às vezes tenho a impressão de que todas as pessoas estão vivendo intensamente a obra A Idade da Razão, de Sartre. Poderia ser uma impressão descartável, se não fosse o fato de estarmos vivendo numa época em que o acesso a informação se tornou o mais caótico e fascinante acidente de percurso que se poderia esperar do desenvolvimento tecnológico nos últimos 100 anos. Poderia, inclusive, ser contraditória tal comparação, mas percebo em primeira análise, e deixo a última a quem estiver lendo, que a auto-reflexão à qual somos desafiados a praticar diariamente, devido a imensurável quantidade de informação que nos chega com cada vez mais rapidez e escrutínio, acabamos por adentrar num envolvente debate, tanto interno quanto externo, de maneiras adversas ou não, indiretas ou não, nos colocando a todos, mesmo no conforto do lar ao fim do dia, como aspirantes de numerosos devaneios que antes poderiam ser deixados "para depois". Deixamos correr marés, inebriados e sedentos de tudo, perdidos numa confusão que por vezes é tão pacifista por fora, mas que porém é ao mesmo tempo de uma violência peculiar, ainda pouco compreendida, nos corroendo a calmaria e fazendo morrer e nascer em pequenos instantes, fazendo surgir tanto novas quanto antigas virtudes. Então eu paro. Então eu penso… Penso na razão, penso em Sartre, outrora cheio de tantas épocas numa única quimera… Não há conclusão. Apenas uma tentativa de abastecer com coragem a estranha máquina que possuo, e me possui, logo atrás dos olhos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A condição de um pássaro.

Se soltarmos um pássaro de uma gaiola que fôra seu mundo e seu horizonte, e o jogarmos ao mundo lá fora, mesmo que num gesto de puro amor, o daremos a morte, pois da liberdade de suas asas este pássaro nada entenderá. Se pegarmos um pássaro das ruas e predê-lo em uma gaiola, para que seja nosso belo amigo cantador das manhãs em nosso quarto, o daremos a morte também, pois em desespero, suas asas não saberão não bater fortemente em disparada rumo a perigosa aventura da liberdade que há mundo afora. Eis que nesta simples comparação, traça-se dois caminhos fatais, que ironicamente, são feitos de um puro amor que se eleva e desmede a razão, que por sua vez, torna-se pesada demais em seu lado da balança. A balança, ora veja, sequer teria sido percebida até este momento. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Sabino no espelho

Meu pai disse uma vez, como quem não quer nada, que as pessoas estavam se preocupando mais em parecer felizes do que de fato ser. Desde que ouvi isso dele num encontro repentino, eu passei a refletir sobre, sempre ouvindo a frase em silêncio em muitos momentos, até que finalmente o tempo moldou o que viria a se tornar o verdadeiro significado daquela frase tão instigante. Aprendi que o risco de apenas "parecer" e não exatamente "ser", pode sempre ensinar falsas maneiras, falsos motivos e caminhos, para finalmente sentir-se  em paz consigo e com as pessoas. Sobretudo no que tange o "porquê" de viver, na chegada de um dia frente ao espelho de um estranho desconhecido do passado, alguém que surge como um fantasma. Eis uma criança, a que diz no olhar que um dia todos foram crianças, tão inocente quanto qualquer vivente, esperneando por um pouco mais de salário, com medo de que algum monstro venha encurralá-la no berço em plena madrugada, pedindo socorro em forma de abraço, pedindo alimento em forma de carícias. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Desmemória

Buscava incessantemente, fugia em segredo. Se deixava levar somente pelas ideias que ditavam a distância. Guardava no fundo da mochila uma foto. Não gostava de olhar a foto, de lembrar da sua origem e suas decisões e maneiras de ser, pelo menos não muito. Culpava a todos do passado por sua covardia que carinhosamente chamava de "timidez". Se dizia "livre", não se sabe bem do que, ou quem, mas assim definia suas andanças. Aventuras tristes, felizes e cheias de detalhes memoráveis, cores e pessoas, abraços e guardanapos, lagoas e estradas, visões, revisões, ilusões… O "finalmente" era um voou no escuro para que não precisasse temer a si, temer o próprio medo, a vertigem, a vergonha da luz acesa, cheia de olhares internos e aparentemente pouco convidativos… Aquele desejo de voar intacto, inerte, guardado por nada, para ninguém.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Lentamente

As plantas dançam enquanto as percebemos num leve balançar, ligeiramente diferentes de ontem para um cuidadoso observador, mas em geral nos parecem imóveis. Pela mesma razão não percebemos também o movimento preciso do ponteiro que marca as horas, o que não nos limita já que um pequeno disparo da memória nos faz lembrar a posição anterior deste ponteiro. O lento movimento das plantas é preciso, cheio de causas e efeitos, de uma beleza quase indescritível. O tempo é esse artista que não nos deixa ver todos os detalhes, e que faz parecer mágica cada traço que desenha um ser vivo, tal como os passos, pequenas mudanças que deixam rastros, pegadas, diferenças entre um lugar e outro, o solo, as rochas, a análise da composição química que pode datar minuciosamente os mais ínfimos ponteiros, os que contam histórias de um passado tão distante que por vezes leva nossa imaginação a lugares incríveis, cheios de possibilidades, histórias que não puderam ser vistas nem contadas. A dança, como eu dizia, de passos lentos e precisos, de rara beleza e envolta de tantas minúcias, que nos desafia, ri de nossas primeiras impressões e antigas esperanças A dança é linda porque é lenta. A surpresa é notá-la de repente, fácil de ver e quase nos pedindo aplausos A dança de tantos relógios que sequer tentaram nos esconder seus passos. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Coletânea Bate Corda



Olá! Fiz uma pequena seleção de músicas antigas minhas que com o tempo fui notando que eram as mais elogiadas, ao menos entre amigos, parentes, enfim, pessoas queridas em geral. Então estou lançando hoje, de graça, para a nossa alegria, o disco intitulado Coletânea Bate Corda. Então é isso, folks, basta clicar no nome das músicas e se divertir. Façam bom proveito.



Por música:

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Coisa boa é pra esmagar. Né Floco ?


Me senti com uma vontade de compartilhar, seja lá com quem for, essa foto com o novo morador da casa, um queridão que será esmagado pelas garras do amor. Seu nome é Floco. Fique à vontade, querido, esses olhos azuis vão dar o que falar.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Pensar é bonito.

Me incomoda sim, a felicidade dos outros. Sobretudo aquela repentina, pouco discreta, que vem como se fosse alguém que há muito diziam já ter morrido. Me incomoda, me arranha o semblante, essas alegrias misteriosas e agudas, chorosas feito mil verões que chegam logo que se vão outros mil invernos. Me incomoda pensar que alguém que tem o que comer, onde dormir, o que vestir e a quem amar, poderia há pouco não estar tão feliz, como de costume, como deveria ser, a preço nenhum, motivo especial nenhum... Nalgum barco sorri um solitário marinheiro. Nalgum canto gelado das noites de inverno, sorri um morador de rua que achou por sorte um cobertor no lixo. Nalgum canto de uma linda pessoa magoada, sorri um pequeno trecho de perdão, que ensaia no tempo, encantos de águas passadas. Vá mudar as coisas, vá correr de encontro aos medos, vá olhar-se num sonho, nos ventos e letreiros. Vá mover-se sem ver. Não cante apenas bem, não leia tudo e nem siga rebanhos. Sobreviva em sua mais longínqua essência. 

domingo, 1 de julho de 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012

Piruli


Esse dog querido aí tem música. Certa vez ele andou fazendo baderna na rua, e  apareceu machucado em uma das patas da frente. Incrível a maneira dele chegar, batendo timidamente a porta daquele jeito meio cachorro de ser, meio arranhando, meio batendo, enfim, o que fez meu pai atender a porta. Logo que abriu, o Pirulito caiu no chão. Tinha o olhar triste, assustado, de um jeito "pidão" nunca antes visto na história desse país. Felizmente ele nos tem, pois rapidamente o cobrimos, alimentamos e sobretudo, demos carinho, até que chegasse o veterinário para busca-lo. O jeito dele me desconcertou, me encheu de amor, de vontade de ficar abraçado nele durante dias. Então eu fiz essa música, que me faz pensar na bondade e na inocência do meu dogão. Te amo Piruli!



quinta-feira, 21 de junho de 2012

No fundo


“It’s a shame…”, diz a letra. Escuto a música como se a tivesse escrito, e me sinto calmo, mesmo que no fundo sempre com a visão de um fantasma que dizem, anda por aí, escondido em algum lugar, perto de mim. Quem sabe está em toda parte, um pouco aqui, ali, numa complexa mistura de outros jeitos, um punhado de alguém que misturou-se aos revezes da pureza que existira entre nós, expandindo, combinando, recriando-se, copiando aqui e ali, mais e mais vozes que gritam, alegram, cantam, mais abraços, recomeços, novas manias e risos. Porém, distante ainda rumina um rapaz cansado, talvez de tanto acreditar no que já sabia antes, de alguma forma, que podia terminar assim, no fino soprar de uma duna que se desfaz lentamente, sem razão qualquer, inofensiva, quieta, ligeiramente lisa com apenas os desenhos de ondas que o vento ajudou a formar, deixada ali por acaso, a duna, a qual ninguém mais deixa pegadas, como qualquer coisa que existe em qualquer lugar enquanto estou de olhos fechados, pensando em tudo ou nada que possa existir, ainda que ciente de que apenas vejo inflar meu ego, um pleno desejo de me perdoar, uma pena de mim mesmo, essa coisa estranha que é a consciência, tão desajeitadamente fiel na sua proposta, sua família de sentimentos tantos que parecem brotar de lugar nenhum, qualquer coisa que sempre existiu e parece ter surgido ali, naquele instante, tão brilhante que é a nossa "lâmpada", nossa mente, nossa alma cheia de tudo, feita de poeira de estrelas, de tempo, tanto tempo... É quase impossível conceber a imensidão que passou até que eu pudesse nascer, e talvez as ilusões tenham seu devido papel em nos ajudar a entender na medida do possível esse mar de tanto e tão pouco, da mais bela simplicidade de um Dente de Leão, à mais próxima galáxia que avistamos em transe, envoltos de uma incerteza que imprime no olhar o sentimento de estar, de ser, de apenas existir e não saber ao certo até que ponto tudo faz sentido, ao mesmo tempo que de certa forma, sim, tudo faz, modela, trabalha minuciosamente para que se possa existir, um único sentido.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Alegria de Verdade


Eis que me deparo com uma antiga música que fiz e gravei há cerca de 4 anos atrás. Me deu até vontade de grava-la novamente, pois me emocionou de alguma forma, não sei, o tempo transforma a maneira como enxergamos as coisas fazendo com que a cor, a névoa que paira no ar, o perfume, o jeito de uma outra época, se tornem delírios que nos arrebatam, nos levam e trazem de volta com mais cores e sabores que antes.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Ensejo de Boas Vindas



Olhe fundo nos olhos de todos. Saiba ver com as mãos, ouvir na imaginação,  seja fulminante, toque. Seja ofuscante, perturbe os tímidos, os assuste com suas próprias fraquezas. 
Seja puro sangue, ferido à ferir, exposto, acidentado, o que sobrou da guerrilha.
Aproveite o desastre, aprenda a esquecer. Saiba apreciar as ilusões, pois elas estarão sempre ao redor e não importa o quanto se pode entendê-las, não haverão batalhas que nos protejam de nossas decisões.

sábado, 21 de abril de 2012

Onde foi?

Se quiser se esconder, acomode-se no meio de um jardim, envolta por petúnias, rosas, orquídeas rubras e girassóis. No entanto, fique longe das margaridas, onde um poeta estará à dispor de cada pétala, resplandescente de um sol que apenas nasce por ti, e ofusca teu olhar matuto, obstinado pela razão, que por sua vez, deixa-te sem tréguas, ao calor de nossas mãos.

quinta-feira, 22 de março de 2012



Hoje começo o cursinho. Que saudade de estudar, de falar "presente", de falar sôr, sora... Bom, espero que tudo dê certo. Para curtir esse dia de um jeito meio nostálgico, segue o link da música que fiz enquanto terminava o Ensino Médio. 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Fingidores!



Em segundos, minutos ou mesmo horas, podemos escolher palavras e tons que mudam a nossa vida. Quanta gente se ama e não sabe, abraços e beijos guardados, vigias da imaginação… Quanto Amor




quinta-feira, 15 de março de 2012

O que é isso? Como funciona?

E por falar em saudade, vamos aos fatos. Saudade não é tristeza, e no máximo, faz chorar timidamente por alegria, às vezes é também gargalhar um pouco, chorar um pouco, tudo junto,  enquanto a cena que a provoca vai tomando forma. De forma parecida pode-se notar outra distinção não menos importante, que é o amor e sua consequência. Veja o quão estranho pode parecer para quem vê de fora a lamúria de quem ama e sente falta. Veja que não é incomum que as pessoas façam vez e outra uma chantagem emocional tanto consigo quanto com as pessoas que amam, e de um jeito parecido surge o próprio amor como culpado dessa triste reação, e passam a justificar como que "por amor", cada lágrima, gemido, auto-punição, gritos de socorro, e por aí vai... Por sorte após a catástrofe é possível notar tal erro e aprender, mesmo que mais uma vez, como se traça um caminho tortuoso como este, feito de tanta inquietude, tantas acusações de ninguém para ninguém, tanto e tão pouco, que se possa notar qualquer sinal de amor. Amor é simples como a saudade. Choramos de alegria, sentimos um imenso prazer em lembrar. Percebemos que a pessoa a qual lembramos está conosco, está ali, aqui, em gestos e aprendizados, em risos e mal entendidos, problemas e soluções. Não há porque pensarmos que não amamos, ao notar esta confusão, pois é justamente aí que reside um problema unicamente seu, meu, enfim, estritamente pessoal, relativo a história de vida de cada pessoa. Não há porque se punir, desgostar-se, por via de assumir a consequência, e sim, pelo contrário, notar a virtude que adentramos ao refletir sobre tudo isso. É como separar os grãos, notar o que é amor e o que não é, simplesmente. É difícil no começo, mas vai ficando melhor a cada dia e se tornando até divertido, pois nos permitimos cada vez mais rir do que é pra rir, e chorar do que é pra chorar, e acima de tudo, amar o que nos fez bem.

segunda-feira, 12 de março de 2012


Me disseram assim - Jogue as fotos no lixo… Daí eu as joguei e pensei - E a saudade, onde eu jogo? Será que tem coleta? Será que é orgânico?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Olá

Não admiro tão somente a tua beleza, e sim, cada singela nuance que te desenha o corpo, cada pouco, cada muito, cada tanto, fios, cachos, lindos cachos e uns poucos dourados, devo aceitá-los como faróis, tão distantes em plena escuridão, perfumes e então, onde estou? A pele, macia e plena de uma palidez tão rara, vívida, à sugar minha atenção, a minha e de minhas mãos, que rastejam assim, em ti, linda pele, desejada pele. O olhar de amor, feito só de amor, que transmite, contagia. Os olhos grandes, brilhantes, refletindo-me, sugando-me, arrancando de mim as energias que não tenho, me proíbem de desviar o olhar de cada pequeno feixe de luz que me concede, linda! Minha flor tão rara, tão assim, que vivo à querer beijá-la, sentir cada pequena dose de teu perfume, seja lá qual for, que me leva de mim, me abandona e me faz teu e somente. A boca, onde quero morar, devagar, sentindo cada pequeno detalhe de teu beijo, tão saboroso, lindo beijo que me faz desaprender tudo quanto se pode dizer, à devorar-me lento e faminto, sedento e caloroso, de um jeito tão belo, tão querido. Não admiro tão somente a tua beleza, e sim, a maravilha do acaso, de tantos acertos, tantas doçuras que se pode encontrar em uma única mulher.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Margaridas




Fizera bem quando pensou de mim
Vivo dizendo que sou, que assim
O que apenas tuas mãos possuem, ao dizer sim

Tua beleza...


Tua beleza se espalha por onde anda, e deixa marcas de infinita saudade onde não mais passa, como se andasse por uma rua cheia de verde, alegria e cor, fazendo de tua sombra o que se torna opaco, abandonado e quieto.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ai minha vida!

Ai minha vida! Ai! Ui! Que horror! Um drama por todos os lados, todos contra mim, todos errados e eu certo e vice-versa, tudo errado, ou nada, pois tudo e nada é complicado, relativo, e ai de quem tentar descomplicar...Socorro! Me ajudem, estou aqui sozinho esperançoso, sem nada, ninguém, tudo ao redor é de mentira, tudo em mim é pavoroso, todos ao redor ainda não perceberam a monstruosidade que em mim reside. Alguém, por favor! Me salve de mim! Não poderia ser, por exemplo, alguém parecido comigo, não! Jamais! Nada perto disso, sim, isso, a coisa, troço, treco, eu. Sou tão esperto que driblei a mim, passei para mim, fiz que chutaria no canto, e chutei a bola no meio, que aliás, passou no meio das pernas do goleiro, e é claro, adivinha quem era o goleiro? Pois bem, em pleno tribunal, confessei tudo e ainda pedi um acordo entre ambas as partes, eu e eu. Até a mão esquerda pensou que fosse a direita, e o céu subiu e o chão caiu. Veja, querido leitor, em que mundo vive este que vos complica. Pois bem, te darei uma dica: eu deveria ser não mais que um pequeno espaço em sua cabeça, mas estou, agora mesmo, sendo tal como se fosse o único, fazendo inclusive, você pensar que sou você.