sábado, 17 de novembro de 2012

Existir

Às vezes tenho a impressão de que todas as pessoas estão vivendo intensamente a obra A Idade da Razão, de Sartre. Poderia ser uma impressão descartável, se não fosse o fato de estarmos vivendo numa época em que o acesso a informação se tornou o mais caótico e fascinante acidente de percurso que se poderia esperar do desenvolvimento tecnológico nos últimos 100 anos. Poderia, inclusive, ser contraditória tal comparação, mas percebo em primeira análise, e deixo a última a quem estiver lendo, que a auto-reflexão à qual somos desafiados a praticar diariamente, devido a imensurável quantidade de informação que nos chega com cada vez mais rapidez e escrutínio, acabamos por adentrar num envolvente debate, tanto interno quanto externo, de maneiras adversas ou não, indiretas ou não, nos colocando a todos, mesmo no conforto do lar ao fim do dia, como aspirantes de numerosos devaneios que antes poderiam ser deixados "para depois". Deixamos correr marés, inebriados e sedentos de tudo, perdidos numa confusão que por vezes é tão pacifista por fora, mas que porém é ao mesmo tempo de uma violência peculiar, ainda pouco compreendida, nos corroendo a calmaria e fazendo morrer e nascer em pequenos instantes, fazendo surgir tanto novas quanto antigas virtudes. Então eu paro. Então eu penso… Penso na razão, penso em Sartre, outrora cheio de tantas épocas numa única quimera… Não há conclusão. Apenas uma tentativa de abastecer com coragem a estranha máquina que possuo, e me possui, logo atrás dos olhos.