terça-feira, 3 de julho de 2012

Pensar é bonito.

Me incomoda sim, a felicidade dos outros. Sobretudo aquela repentina, pouco discreta, que vem como se fosse alguém que há muito diziam já ter morrido. Me incomoda, me arranha o semblante, essas alegrias misteriosas e agudas, chorosas feito mil verões que chegam logo que se vão outros mil invernos. Me incomoda pensar que alguém que tem o que comer, onde dormir, o que vestir e a quem amar, poderia há pouco não estar tão feliz, como de costume, como deveria ser, a preço nenhum, motivo especial nenhum... Nalgum barco sorri um solitário marinheiro. Nalgum canto gelado das noites de inverno, sorri um morador de rua que achou por sorte um cobertor no lixo. Nalgum canto de uma linda pessoa magoada, sorri um pequeno trecho de perdão, que ensaia no tempo, encantos de águas passadas. Vá mudar as coisas, vá correr de encontro aos medos, vá olhar-se num sonho, nos ventos e letreiros. Vá mover-se sem ver. Não cante apenas bem, não leia tudo e nem siga rebanhos. Sobreviva em sua mais longínqua essência. 

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