As plantas dançam enquanto as percebemos num leve balançar, ligeiramente diferentes de ontem para um cuidadoso observador, mas em geral nos parecem imóveis. Pela mesma razão não percebemos também o movimento preciso do ponteiro que marca as horas, o que não nos limita já que um pequeno disparo da memória nos faz lembrar a posição anterior deste ponteiro. O lento movimento das plantas é preciso, cheio de causas e efeitos, de uma beleza quase indescritível. O tempo é esse artista que não nos deixa ver todos os detalhes, e que faz parecer mágica cada traço que desenha um ser vivo, tal como os passos, pequenas mudanças que deixam rastros, pegadas, diferenças entre um lugar e outro, o solo, as rochas, a análise da composição química que pode datar minuciosamente os mais ínfimos ponteiros, os que contam histórias de um passado tão distante que por vezes leva nossa imaginação a lugares incríveis, cheios de possibilidades, histórias que não puderam ser vistas nem contadas. A dança, como eu dizia, de passos lentos e precisos, de rara beleza e envolta de tantas minúcias, que nos desafia, ri de nossas primeiras impressões e antigas esperanças A dança é linda porque é lenta. A surpresa é notá-la de repente, fácil de ver e quase nos pedindo aplausos… A dança de tantos relógios que sequer tentaram nos esconder seus passos.
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