quinta-feira, 21 de junho de 2012

No fundo


“It’s a shame…”, diz a letra. Escuto a música como se a tivesse escrito, e me sinto calmo, mesmo que no fundo sempre com a visão de um fantasma que dizem, anda por aí, escondido em algum lugar, perto de mim. Quem sabe está em toda parte, um pouco aqui, ali, numa complexa mistura de outros jeitos, um punhado de alguém que misturou-se aos revezes da pureza que existira entre nós, expandindo, combinando, recriando-se, copiando aqui e ali, mais e mais vozes que gritam, alegram, cantam, mais abraços, recomeços, novas manias e risos. Porém, distante ainda rumina um rapaz cansado, talvez de tanto acreditar no que já sabia antes, de alguma forma, que podia terminar assim, no fino soprar de uma duna que se desfaz lentamente, sem razão qualquer, inofensiva, quieta, ligeiramente lisa com apenas os desenhos de ondas que o vento ajudou a formar, deixada ali por acaso, a duna, a qual ninguém mais deixa pegadas, como qualquer coisa que existe em qualquer lugar enquanto estou de olhos fechados, pensando em tudo ou nada que possa existir, ainda que ciente de que apenas vejo inflar meu ego, um pleno desejo de me perdoar, uma pena de mim mesmo, essa coisa estranha que é a consciência, tão desajeitadamente fiel na sua proposta, sua família de sentimentos tantos que parecem brotar de lugar nenhum, qualquer coisa que sempre existiu e parece ter surgido ali, naquele instante, tão brilhante que é a nossa "lâmpada", nossa mente, nossa alma cheia de tudo, feita de poeira de estrelas, de tempo, tanto tempo... É quase impossível conceber a imensidão que passou até que eu pudesse nascer, e talvez as ilusões tenham seu devido papel em nos ajudar a entender na medida do possível esse mar de tanto e tão pouco, da mais bela simplicidade de um Dente de Leão, à mais próxima galáxia que avistamos em transe, envoltos de uma incerteza que imprime no olhar o sentimento de estar, de ser, de apenas existir e não saber ao certo até que ponto tudo faz sentido, ao mesmo tempo que de certa forma, sim, tudo faz, modela, trabalha minuciosamente para que se possa existir, um único sentido.

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